poetizada

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sangue não é água

Bem, sempre ouvi dizer que a  relação com os nossos pais muda muito depois que a gente tem filhos. Não acreditava muito não, mas... não é que tem mudado mesmo? Ainda não sei explicar como isso está acontecendo (talvez eu nunca entenda), só sei que não é aquele clichê hollywodiano: um bebê nasce e todas as mágoas e diferenças desaparecem magicamente e a felicidade se espalha por toda a família. 
Percebo que a gente começa a nossa jornada de mãe e isso fatalmente vai nos remeter não só ao nosso arquétipo materno, mas a nossa mãe real.


Esse fim de semana fomos pro interior ver minha mãe. Ela me presenteou com um caderninho que ela começou quando dei a notícia da gravidez. Lá ela escreveu um tipo de diário com as sensações de ser avó, as novidades que eu contava como, por exemplo, a descoberta do sexo e muita, muita poesia. 
E isso me fez lembrar que um dia recebi um convite pra falar num programa de televisão sobre minhas poesias e o sarau que costumava frequentar. Por coincidência minha mãe estava em Sampa e foi comigo para a gravação. No final do programa acabei fazendo uma surpresa e falando uma poesia que ela escreveu e eu gosto muito
É Caetano, o mundo dá voltas e às vezes temos surpresas muito agradáveis sem nem esperar por isso. A poesia copio aqui embaixo.



(vovó Li e Caetano se conhecendo)

"O amor acaba. O amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, nos roteiros de tédio para tédio. O amor acaba na carta que chegou depois. Na descontrolada fantasia da libido. O amor acaba no coração que se dilata e quebra e que o médico sentencia imprestável para o amor. Às vezes o amor não acaba e é simplesmente esquecido, como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém humilde o carregue consigo. Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido, mas, pode acabar com doçura e esperança, na floração da primavera, no abuso do verão, na dissonância do outono, no conforto do inverno. Em todos os lugares o amor acaba. A qualquer hora o amor acaba. Por qualquer motivo o amor acaba. Para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto. O amor acaba."

4 comentários:

  1. Nega...
    Quando vcs falam em ser mãe, da felicidade que é, das transformações que acontecem, nossa me dá um medo...uma aflição... quase um terror sabe, mas só de pensar que ser mãe significa também ver nossas mães, das uestões que elas trazem, de como agem, de como falam e fazem... nossa que interessante, achoq ue tá dando uma Comichão sabe!!!!
    Obrigada por compartilhar isso tudo comigo tá.
    Beijos de Luz Pritty

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  2. meu Deus! uma familia de poetas... que linda, triste e inspiradora poesia.
    O amor acaba, mas talvez só acaba porque, (como havia dito Gil) tem que morrer pra germinar.

    obrigada por comentar lá no Astronauta, no aniversário do blog, assim pude chegar até aqui e desfrutar dessas pequenas doses de poesia.

    beijo carinhoso

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  3. lindo, lindo.
    acho q uma coisa forte que acontece quando temos filhos é que a gente entende que nossos pais transbordavam humanidade. que eram também imperfeitos, e não heróis infalíveis e onipotentes, como imaginavam nossas cabecinhas infantis. que eles também estavam traçando seus caminhos a passos tortos, nem sempre tão firmes e tão certos como gostariam. aprendendo, caminhando. como nós, agora, lado a lado com nossos pequenos.
    que um dia eles nos perdoem a nossa humanidade também.
    bjo, linda.

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  4. Oh, Diva.....ponham - vc, Deri e Caê - isso além do blog, vai....vejam como todos nós nos tocamos de forma tão particular e não "apenas" por gostarmos tanto de vocês...Bjs de uma mundana sedenta de novidades literárias

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morda a maçã!