poetizada

terça-feira, 29 de setembro de 2009

poesia paterna

pés descalços, como vim ao mundo?
nadando entre braços,
esquivando de abraços,
procurando o laço que me fez aqui...

amor era só uma palavra...
não entendia, não compreendia,
nem o que era, nem o que poderia ser, ou viria...
mas, um dia, olhei e vi o que senti como pressão no peito,
como som nas costas, ou cócegas...
vi a mão de meu pai, a boca de minha mãe,
vi o olhar e o som que me viram e abraçaram por tanto tempo...

amor, apenas uma palavra pra quem não entende o carinho de meus pés em meus pés!

o amor existe, vive...
encontro o amor todo dia,
no bom dia de meu pai,
na pele de minha mãe,
no abraço de minha irmã...
no poder sorrir,
com vontade, necessidade, desejo, querer!

o amor existe no leite, que bebo todo dia,
toda noite, toda hora...
e nos meus pés, que desenham (ainda não contadas) histórias...

e se você não acredita em mim, tudo bem!
não tenho nem um ano ainda,
tudo que eu falo é um pouco duvidoso
(menos que o leitinho da minha mãe, seja tão gostoso!).

bom dia,
meu nome é caetano,
ano que vem faço um ano,
e já não acredito em ver nos seus olhos a saudade do bebê que um dia eu fui...



(pezinhos do pequeno, há dois meses, parque do lado de casa )

sábado, 26 de setembro de 2009

Fw: geminianos

Hoje eu não vou escrever, mas deixar a indicação desse post - geminianos - da Rê. E nossos filhotes são ou não a melhor fonte de inspiração? Bem, certas amizades nascem das maneiras mais inusitadas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

amor e dor


Amor e dor sempre caminham juntos nas grandes histórias românticas, certo? E na literatura? Poetas sempre celebraram a dupla. É...a parceria foi vivida por mim essa semana. Na amamentação.

Eu estou com mastite e candidíase mamária. Sim, desgraça pouca é bobagem. Febre. Dor. Pontadas. Fica difícil até abaixar o braço

Andei pensando aqui que se não fosse a  enorme vontade de continuar amamentando seria um passo para o desmame. Como ouvi muito: "Ah, agora não dá mais pra amamentar, né?" ou "Ai, mas você vai dar de mamar assim? Gosta de sofrer". 
A dor é realmente muito intensa. Cada vez que o pequeno queria mamar eu ficava em pânico com a dor, mas o amor que isso representa para nós ajudou a superar tudo e seguir em frente. 
Bem, fiquei por conta de me recuperar essa semana pra continuar com a amamentação prazeirosa. 
É só eu fechar os olhos e pensar nesse delicioso momento meu e do Caetano e concluo que amor não tem preguiça nem condições pra ser vivido a todo e qualquer instante e apesar de toda e qualquer situação.
Até me lembrei de um trecho do poema "Amor e seu tempo" do Drummond:


É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sangue não é água

Bem, sempre ouvi dizer que a  relação com os nossos pais muda muito depois que a gente tem filhos. Não acreditava muito não, mas... não é que tem mudado mesmo? Ainda não sei explicar como isso está acontecendo (talvez eu nunca entenda), só sei que não é aquele clichê hollywodiano: um bebê nasce e todas as mágoas e diferenças desaparecem magicamente e a felicidade se espalha por toda a família. 
Percebo que a gente começa a nossa jornada de mãe e isso fatalmente vai nos remeter não só ao nosso arquétipo materno, mas a nossa mãe real.


Esse fim de semana fomos pro interior ver minha mãe. Ela me presenteou com um caderninho que ela começou quando dei a notícia da gravidez. Lá ela escreveu um tipo de diário com as sensações de ser avó, as novidades que eu contava como, por exemplo, a descoberta do sexo e muita, muita poesia. 
E isso me fez lembrar que um dia recebi um convite pra falar num programa de televisão sobre minhas poesias e o sarau que costumava frequentar. Por coincidência minha mãe estava em Sampa e foi comigo para a gravação. No final do programa acabei fazendo uma surpresa e falando uma poesia que ela escreveu e eu gosto muito
É Caetano, o mundo dá voltas e às vezes temos surpresas muito agradáveis sem nem esperar por isso. A poesia copio aqui embaixo.



(vovó Li e Caetano se conhecendo)

"O amor acaba. O amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, nos roteiros de tédio para tédio. O amor acaba na carta que chegou depois. Na descontrolada fantasia da libido. O amor acaba no coração que se dilata e quebra e que o médico sentencia imprestável para o amor. Às vezes o amor não acaba e é simplesmente esquecido, como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém humilde o carregue consigo. Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido, mas, pode acabar com doçura e esperança, na floração da primavera, no abuso do verão, na dissonância do outono, no conforto do inverno. Em todos os lugares o amor acaba. A qualquer hora o amor acaba. Por qualquer motivo o amor acaba. Para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto. O amor acaba."

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

homens na minha vida





Recebi por e-mail uma proposta para um trabalho de fotografia. A temática era sobre as escolhas da mulher. O que me faz sentir bem enquanto mulher?
Comecei a pensar sobre o assunto. E só surgiam na minha cabeça palavras soltas: mulher, fêmea, filha, mãe, feminino. Não consegui tecer nada coerente, ficava meio sem referências.


Então percebi algo que talvez já tenha me dado conta há muito tempo. Minhas referências de vida vem muito mais do masculino. A história do porquê o maior convívio com meu pai e meu irmão é longa e especial. Resumindo: pais separados e por volta dos 10 anos passamos a morar eu, meu pai e meu irmão. Meu pai casou de novo somente muito tempo depois e minha mãe mora em outra cidade.

Pegar emprestado salto alto e maquiagem da mãe? Eu não. Pegava um agasalho do pai ou os brinquedos do irmão mais novo. Me recordo com ternura da diversão de jogar videogame os três. E montar lego. As bonecas ficavam no fundo do armário, quase esquecidas.
Assistíamos a Fórmula 1. E meu pai nos ensinava a dirigir quando íamos pro interior. Até hoje sou ligada em carros. 
Há alguns anos uma amiga foi morar sozinha. Também dei palpite nas cores e tecidos, mas a mão na roda foi instalar pra ela os armários do quarto e as prateleiras da cozinha. Me senti em casa com aquelas ferramentas todas. 
Eu não sou masculinizada. Tudo bem que odeio maquiagem, mas adoro pintar a unha de vermelho. Tenho pavor de salto alto, mas nunca deixei de usar brincos, colares e pulseiras.



Há dois anos eu e meu querido poeta "juntamos os trapos". É mais um homem na minha vida, uma nova fase, e nessa meu papel é de mulher. Outro dia ficou bravo porque eu pendurei a cortina sozinha. De vez em quando ele me coloca no lugar de mulherzinha, e eu adoro. 
Veio a gravidez e a certeza (intuição?) de que mais um homem faria parte da minha vida. A gravidez é a expressão máxima do feminino. Resolvi ir a fundo e aproveitar tudo o que esse momento tinha pra me dar. O parto, a amamentação, tudo mais o que esse universo feminino me trouxe eu acolho de braços abertos.


E nesse caminho do nascimento do Caetano nasceu uma nova Mariana.  Gosto ser mulher e tenho esse universo masculino impregnado em mim de uma maneira muito bonita.







(Fiz a primeira foto com o Caetano na barriga: meu pai, meu irmão e meu companheiro e essa última no primeiro dia dos pais do pequeno: meu pai, meu companheiro, meu filho e meu irmão)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

escolhendo pelo outro

Num despretensioso passeio de sábado vimos algo que já tinha dado pano pra muitas piadas familiares: a roupinha de time de futebol. Do Corinthians, diga-se. Aqui em casa é assim: pai é corinthiano roxo e mãe é corinthiana.



Assunto polêmico para muitos, pra mim é assim: se a pessoa tem um time do coração e ele é tão importante a ponto de colocar brasão no quarto dos filhos ou a roupinha com escudo desde bebezinho, tudo bem. Quem prefere a imparcialidade, tudo bem. Apesar de eu achar que a neutralidade não exista de fato. Afinal, se você é corinthiano isso vai aparecer na sua casa, e portanto, de uma maneira ou outra, na vida dos seus filhos.

Dizer: "meu filho vai escolher o time que quiser" é legal pois mostra respeito as escolhas do outro, mas ao mesmo tempo não podemos viver nessa estranha neutralidade, porque vai parecer forçado, vai parecer que criamos nossos filhos num mundo fantasiosamente neutro. Impossível.



Voltando a loja aonde encontramos o body do Corinthians:
Eu: "Vamos comprar?" (toda empolgada porque a roupinha era roxa, cor do terceiro uniforme do timão e cor que eu adoro.) 
Pai: "Ah, não quero comprar, quero que ele tenha liberade pra escolher o time dele, não quero que depois ele veja a foto com essa roupa e se sinta influenciado a ser corinthiano".
Eu: (surpresa com o comentário, afinal o pai é fanático) "Essa não! Meu amor, gostando ou não do Corinthians quando crescer e tiver mais discernimento, ele no mínimo vai ter algumas histórias para contar. E quem sabe até um pai tirando sarro do torcedor vira-casaca."



Bem, compramos a roupinha. E sem perder a esportiva, eu vou adorar levar o pequeno assim pra casa do vovô-materno palmeirense, adoro essas farras.
Eu tenho uma história de ser corinthiana. Meu avô materno teve um infarto em pleno jogo do timão contra a Ponte Preta em Campinas e faleceu com 40 anos. Logicamente muitos anos antes de eu nascer. Eu cresci ouvindo com muito orgulho essa história e decidi homenagear meu avô. Influenciada pela história. Assim como tive influências palmeirenses, coisas de famiglia italiana.

Eu não acredito em imparcialidade nessas horas, eu vou ser autêntica pro meu filho. E saberei respeitar suas escolhas. 
Hoje eu preciso fazer muitas escolhas pelo Caetano, e isso é inevitavelmente feito a partir da minha bagagem, das minhas preferências.



Eu prometo não forçar a barra, mas a foto está guardada... =)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

poesias


Nos conhecemos num sarau. Ainda que fosse um clichê o chamei de "poeta". Mal sabia que ele não seria somente mais um dentre tantos poetas talentosos daquele círculo semanal. Quando o ouvi chamar-me "poesia" pulei de alegria. Internamente. Por fora queria parecer blasé, queria que ele não reparasse na minha euforia de menina apaixonada. Por isso na primeira vez em que o vi recitando eu olhei pro chão, pro vazio. Não sei se por vergonha de saber que aquele poema era dedicado silenciosamente pra mim ou por não querer deixar transparecer o interesse. Ou as duas coisas. O que sei é que tempos depois soube que ele nunca esqueceu aquela falta de atenção e isso o motivou ainda mais a voltar naquele sarau. E assim, tempos depois, terças-feiras eram noites de grandes expectativas e tentativas de aproximação.


E assim caminhamos devagar, entre tropeços e dúvidas e enfim nos unimos.


Olhando o nosso doce pequeno Caetano, recordo uma promessa surgida na gravidez, a de sempre lermos nossas e outras poesias para ele. Me lembro do último sarau que fomos na gravidez. Eu estava bastante sensível (hormônios de grávida) e lendo esse livro que me deixava a flor da pele. Li esse texto lindo que me emocionou muito:


Quando o seu nome me veio à cabeça, foi muito antes de você existir. Antes até de amar seu pai. Há muito mais tempo eu sei de você, Francisco. E amo desde o seu não-projeto de vir. Você, seu humor, sua alegria. Eu já sabia, mas não sabia que sabia. E foi assim, sem saber, que procurei e fui achada. Foi você, dentro de mim, que fez nascer o seu pai na minha vida. Para poder vir através dele. Obrigada por parir seu pai, filho. E assim me dar a mim mesma de presente.

Cristiana Guerra


(foto da nossa viagem a Goiás, grávida de 5 meses)